Noites do norte ao vivo

je connaissais déjà ce double album live du grand Caetano Veloso (le Jobim actuel à mon sens) pour l'avoir entendu mais je ne l'avais pas encore acheté, c'est maintenant chose faite !

très beau live long et somptueux (le plus long peut être de Veloso ?), magnifiquement produit et interprété par le violoncelliste Jaques Morelenbaum (ici armé d'un violoncelle électrique ) comportant la plupart des pistes de l'album "Noites do norte" (en forme d'ode très expérimentale et musicalement déstabilisatrice dédiée aux premiers esclaves africains arrivant à Salvador de Bahía pour travailler dans les champs de canne à sucre en 1550), quelques belles chansons issues de "Araça azul" (l'album maudit de Veloso - enregistré en 1972) et de "Bicho" (1977), et de nombreuses reprises et inédits comme le sublime "Caminhos cruzados" de Jobim visiblement inspiré par la version du grand Joao Gilberto dans son album "Amoroso"...

Sans parler de O dom de Iludir, O trem das cores, Cajuina, Tropicalia, Gente, Meia Lua Inteira.
Ah, oui, on l'aime ce cd !
Le Dvd est aussi assez étonnant!
AH, Christian, j'aime quand tu nous parles comme ça!

en ce moment, j'écoute "Meu Rio" : une bossa nova inédite absolument sublime, archi émouvante, qui évoque dans son texte les maîtres de toujours de Veloso comme Tom Jobim et Joao Gilberto, pour ceux qui lisent dans le texte le portuguais :

"Meu Rio
Perto da favela do Muquiço
Eu menino já entendia isso
Um gosto de Susticau
Balé no Municipal
Quintino:
Um coreto
Entrevisto do passar do trem
Nós nos lembramos bem
Baianos, paraenses e pernambucanos:
Ar morno pardo parado
Mar pérola
Verde onda de cetim frio
Meu Rio
Longe da favela do Muquiço
Tudo no meu coração
Esperava o bom do som: João
Tom Jobim
Traçou por fim
Por sobre mim
Teu monte-céu
Teu próprio deus
Cidade
Vista do outro lado da baía
De ouro e fogo no findar do dia
Nas tardes daquele então
Te amei no meu coração
Te amo
Em silêncio
Daqui do Saco de São Francisco
Eu cobiçava o risco
Da vida
Nesses prédios todos, nessas ruas
Rapazes maus, moças nuas
O teu carnaval
É um vapor luzidio
E eu rio
Dentro da favela do Muquiço
Mangueira no coração
Guadalupe em mim é Fundação
Solidão
Maracanã
Samba-canção
Sem pai nem mãe
Sem nada meu
Meu Rio"

© Uns Produções Artísticas Ltda

elo a écrit:

Tropicalia

la version qu'on trouve sur ce disque est très différente de l'originale de 1967 et elle est épatante aussi (comme modernisée quoi)

elo a écrit:

AH, Christian, j'aime quand tu nous parles comme ça!

merci

je vous ai mis aussi le texte époustoufflant de la chanson "Língua" (qui date de 1984, elle figure sur l'album "Velo" au son assez commercial) - un véritable chant d'amour à la langue portugaise et à la richesse de ses couleurs littéraires et phonétiques (ici traduit musicalement par une forme de hip hop) :

Língua
Caetano Veloso


Gosta de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
"Minha pátria é minha língua"
Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E – xeque-mate – explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
e Maria da Fé

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
(– Será que ele está no Pão de Açúcar?
– Tá craude brô
– Você e tu
– Lhe amo
– Qué queu te faço, nego?
– Bote ligeiro!
– Ma’de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
– Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
– I like to spend some time in Mozambique
– Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem

© Editora Gapa

elo a écrit:

Cajuina

oui, la version présente sur le live est fabuleuse avec ses sons de flangers tournoyants (ça sonne très newwave ) et le solo de violoncelle sur un ostinato de basse électronique très répétitif et obsessionnel...